HISTÓRIA DO COOPERATIVISMO
A cooperação sempre existiu nas sociedades humanas, desde as eras mais remotas, estando sempre associada às lutas pela sobrevivência, às crises econômicas, políticas e sociais, bem como às mudanças.
Desde a sua origem o homem descobriu a vantagem da ajuda mútua. Os melhores exemplos da cooperação aparecem quando se estuda a organização social dos antigos povos como os babilônios, gregos, chineses, astecas, maias e incas. A história relata a existência de civilizações que empregavam a cooperação como forma de solucionar questões de interesse comunitário.
A partir da segunda metade do primeiro milênio, em meio a um regime espoliador, responsável pela convulsão social das classes populares de diversos países europeus, surgem pesquisadores que se dedicam ao estudo dos caracteres de sociedades desaparecidas. Motivados pelas experiências de civilizações passadas ou pelos modelos em épocas mais próximas, descobrem formas ideais para a organização das classes trabalhadoras.
O processo de industrialização, na sua primeira etapa, fez com que os artesãos e trabalhadores rurais migrassem para as grandes cidades, atraídos pelas fábricas em busca de melhores condições de vida.
Essa migração fez com que houvesse excesso de mão-de-obra, resultando na exploração do trabalhador de forma abusiva e desumana, submetendo-os a uma jornada de trabalho de até 16 horas/dia, e salários que não supriam as necessidades básicas dos trabalhadores.
Mulheres e crianças eram obrigadas a ingressar no mercado de trabalho em condições mais cruéis que os homens.
Utopistas ou não, estudiosos ingleses, franceses, alemães e de outras nacionalidades européias deixam experiências e obras capazes de motivar o surgimento de uma nova ordem sócio-econômica conduzindo à reformulação comunitária, em busca da felicidade individual e do bem-estar.
O Cooperativismo moderno surgiu junto com a Revolução Industrial, como forma de amenizar os traumas econômicos e sociais que assolavam a classe de trabalhadora com suas mudanças e transformações.
A cooperação econômica se fortaleceu no século XVI (1659) com P.C. Plockboy que idealizava a cooperação integral por classes de trabalhadores. Jonhn Bellers (1690) procura organizar as "Colônias Cooperativas de Trabalho" congregando de 300 a três mil cooperaaadores para produzir e comercializar seus produtos, na tentativa de eliminar o lucro que era apropriado pelos intermediários. Robert Owen
Robert Owen, nascido em 1771, no condado de Montgomery, Inglaterra, inicia sua vida de trabalho aos 10 anos de idade. Se interessa pela tecelagem, se tornando – ainda jovem – empresário desse ramo, administrando inúmeras indústrias.
Volta sua atenção aos problemas sociais de sua época preocupado com o baixo nível de vida dos operários ingleses. Introduz reformas em suas fábricas; reduz a jornada de trabalho; regulamenta o emprego da mulher e do menor de idade; concede participação dos resultados a todos os seus empregados.
Frustrado pôr ver que os demais empresários ingleses não se interessam por suas idéias, imigra para os Estados Unidos aonde tenta fundar – sem êxito – as colônias baseadas na propriedade coletiva: as Repúblicas Ideais, constituídas pôr 2.500 operários.
Voltando à Europa, investe em inúmeras iniciativas de organização de trabalhadores. Mesmo sem obter relevante sucesso, a sociedade inglesa e de outros paises ficam devendo a ele e a seus inúmeros seguidores, a fundação de cooperativas e sindicatos.
A mais importante lição comunitária na sociedade moderna tenha advindo da experiência de Owen, quando ele tenta conciliar o incentivo individual com uma eficiênte decisão do processo democrático.
Ao fim da sua vida, apesar dos insucessos a ele atribuídos por setores do empresariado elitista de sua pátria e da Europa, merece na sociedade e de todo o mundo o reconhecimento de ter sido um brilhante industrial, reformador e “Pai do Cooperativismo Moderno”.
Precursores do Cooperativismo
Contemporâneos de seu trabalho e de suas experiências, bem como divulgadores de suas obras, merecem também o título de Precursores do Cooperativismo:
• François Marie Charles Furnier (1772-1837) – França.
• William King (1786-1865) – Inglaterra.
• Philippe Joseph Benjamin Buchez (1796-1865) – Bélgica.
• Sean Joseph Charles Louis Blanc (1822-1882) – França.
Além dos precursores citados não podem ser esquecidos aqueles que tiveram importante participação na reformulação da sociedade universal e no desenvolvimento do cooperativismo:
Doutrinadores: Charles Gide, Beatriz Potter Webb, Paul Lambert, Bernard Lavergne, George Larsene, George Fouquet e Moisés Coady.
Historiadores: George Jacob Holyoake, Grozmoslav Mladematz e George Davidovic.
Pioneiros: Os probos de Rochdale, Friederich Wilhelm Raiffeisen, Hermann Schulze/Delitzch, Luiggi Luzzatti, Wilhelm Hass, Alphonse Desjardins e Theodor Amstad.
Os Tecelões de Rochdale
O Cooperativismo, idealizado por vários precursores, aconteceu, de fato, em 21 de dezembro de 1844, em Toad-Lane (Beco do Sapo). Explorados na venda de alimentos e roupas no comércio local, um grupo de 28 tecelões da cidade de Rochdale, na região de Manchester, na Inglaterra, lançou no mundo a semente do sistema econômico do Cooperativismo.
Discutindo suas dificuldades e buscando soluções para problemas que já se tornavam angustiantes em toda a Europa, eles ouviram a opinião de um companheiro que fora discípulo de Robert Owen, e decidiram pela criação de uma sociedade de consumo, baseada no cooperativismo puro.
Decidiram (em novembro de 1843) que cada um economizaria pequenas parcelas de seus poucos rendimentos, para tentarem formar algo que lhes pudesse tirar da aflitiva situação em que se encontravam.
Com o capital inicial de 28 libras (uma libra para cada um do grupo) eles montaram, primeiro, um armazém próprio, com pequenos estoques de açúcar, farinha, gordura e outros gêneros de primeira necessidade.
O modesto estabelecimento – localizado num prédio com 54 anos – administrado apelos próprios fundadores foi alvo da incredulidade e da inveja dos tradicionais comerciantes de Rochdale. Entretanto, despertou a atenção dos consumidores locais e, principalmednte, das classes trabalhadoras, pela considerável prosperidade.
Depois a associação apoiou a construção ou a compra de casas para os tecelões e montou uma linha de produção para os trabalhadores com salários muito baixos ou desempregados.
Desde então, as cooperativas existem em vários setores e em todo mundo.
Os valores e princípios cooperativos foram preservados, com pequenas alterações ao modelo cooperativista adotado em todo mundo, como também a própria base da filosofia do cooperativismo.
O tempo consagrou este sistema como o maior movimento de idéias já realizado na história da humanidade.
Formavam este grupo de idealistas:
01. Benjamin Jordan - ajudou a alugar o armazém onde funcionava a Cooperativa.
02. Benjamin Rudman - tecelão e cartista. Retraído, mas firme e trabalhador.
03. Charles Howarth - operário de fábrica de algodão, era o "Arquimedes da Cooperação". Autor do estatuto rochdaliano e criador do princípio da distribuição de lucros na produção das contas. Foi o primeiro secretário da cooperativa.
04. David Brooks - estampador e cartista, foi o primeiro encarregado das compras da cooperativa.
05. George Healey - chapeleiro.
06. James Banford - um dos quatro conselheiros eleitos na primeira assembléia, em 13 de agosto de 1844.
07. James Daly - um dos que mais influíram no comitê de tecelões de flanela, em favor da criação da Cooperativa. Foi secretário na primeira administração da Cooperativa.
08. James Maden - tecelão da flanela, era um dos "adeptos da esperança".
09. James Manock - tecelão de flanelas e cartista, foi suplente várias vezes e conselheiro.
10. James Smithies - classificador de lãs e guarda-livros. Foi considerado o maior dos pioneiros.
11. James Standrind
12. James Tweedale - fabricante de tamancos e socialista. Um dos primeiros conselheiros e quinto presidente da cooperativa.
12. James Tweedale - fabricante de tamancos e socialista. Um dos primeiros conselheiros e quinto presidente da cooperativa.
13. James Willkinson - ajudou a alugar o armazém aonde funcionava a cooperativa.
14. John Bent - alfaiate e socialista. Um dos primeiros integrantes do Conselho Fiscal.
15. John Collier - mecânico socialista. Exerceu a função de conselheiro da cooperativa várias vezes.
16. John Garsid - marcineiro.
17. John Holt - foi o primeiro tesoureiro da cooperativa.
18. John Hill.
19. John Kershaw - era guarda de armazém de uma mina de carvão. Também trabalhava como cartista.
20. John Sconcroft - vendedor ambulante.
21. Joseph Smith - separador de lã. Participou da reforma social. Integrou a primeira comissão de compras.
22. Miles Ashworth - tecelão de flanela e cartista, foi o primeiro presidente da Cooperativa de Rochdale.
23. Robert Taylor - organizador da venda de livros e revistas.
24. Samuel Ashworth - tecelão de flanela, foi o primeiro gerente da Cooperativa, cargo que ocupou por 22 anos. Deixou a cooperativa com o expressivo número de seis mil associados.
25. Samuel Tweedale - tecelão, foi o primeiro conferencista da Cooperativa.
26. Willian Cooper - tecelão de flanela e socialista. Foi o primeiro caixeiro da Cooperativa.
27. Willian Mallaleu - suplente do conselho reeleito na primeira assembléia.
28. Willian Taylor - tecelão, foi um dos primeiros a acreditar e a ingressar no movimento.
Segundo alguns autores, Ana Tweedale foi a única mulher que apoiou o grupo, ajudando a conseguir o primeiro local aonde funcionou a cooperativa.
O padre Theodor Amstad
O padre suíço Theodor Amstad fundou no ano de 1902 em Linha Imperial – Nova Petrópolis-RS, a primeira Cooperativa de Crédito Rural (Sparkasse) no sistema Raiffeisen. Ele sempre dizia: “O agricultor que tiver alguma reserva de dinheiro deverá depositar na “Sparkasse” para que outros agricultores possam tomar emprestado também desenvolver a sua propriedade.
Em 1912, num congresso de agricultores, em Venâncio Aires-RS, o padre Amstad fundou a Sociedade União Popular (O Volksverein) e a revista Sankt Paulusblatt, visando proporcionar assistência religiosa, cultural, social e profissional aos imigrantes alemães e seus descendentes.
Durante vários anos o padre Amstad coordenou a administração de suas obras.
Fundou, em Hamburgo Velho, um seminário para formação de professores comunitários.
Construiu, em São Sebastião do Caí, um hospital, um asilo e um centro de treinamento agrícola. Promoveu as colonizações de Cerro Largo-RS, Santo Cristo-RS e Itapiranga, no oeste de Santa Catarina, aonde, em 21 de outubro de 1932, quando se chamava Colônia Porto Novo, foi fundada a Caixa União Popular de Porto Novo, hoje a Cooperativa de Crédito Itapiranga.
Plataforma cooperativista de Amstad
Com a carroça cheia e as animálias (animal de carga) carregadas do futuro de seu pesado trabalho e do resultado de muito suor, o colono se dirige à casa comercial, mas as bugigangas estrangeiras, que recebe em troca, para levar para casa, ele facilmente pode colocar debaixo do braço... Por isso a queixa, que hoje se ouve com freqüência.
"Pelas nossas coisas nada recebemos, porém pelo que compramos devemos pagar o valor duplo e triplo!"
Assim estareis de acordo contigo, se eu vos digo:
"A dependência econômica, na qual atualmente nos encontramos em relação a outros países, é na verdade uma nova escravatura, que está ameaçando nosso país!"
Como foi ponto de honra abolir a antiga escravatura, assim agora para o verdadeiro brasileiro constitui uma questão de brio afastar com mão firme esta nova escravatura do nosso Brasil.
Devemos produzir mais, para exportar mais e importar menos, senão nos endividaremos sempre mais.
Prefiramos produtos nacionais aos estrangeiros.
Se uma grande pedra se atravessa no caminho e 20 pessoas querem passar, não o conseguirão, se um por um a procuram remover individualmente. Mas se as 20 pessoas se unem e fazem força ao mesmo tempo, sob a orientação de um deles, conseguirão solidariamente afastar a pedra e abrir o caminho para todos."
(THEODOR AMSTAD, Conferência proferida na Associação dos Agricultores, Feliz-RS, fevereiro 1900).
Fonte: CooperItaipu